6 de jan. de 2011

Comentário sobre o artigo de Antonio Cândido “O portador”.

Olá pessoal!

Este texto (O portador) é muito bacana, e penso que todos que querem conhecer um pouco mais sobre Nietzsche devem dar uma lida nele, É SÓ PROCURAR NO ARQUIVO DO BLOG.

Este post tem intuito de apresentar argumentos de Antonio Cândido, que enfatizam a importância de Nietzsche para a história do pensamento. Sirvam-se!


A princípio achamos necessário articular sobre o estudioso da literatura brasileira e estrangeira, que possui uma obra crítica extensa, respeitada nas principais universidades do mundo, Antonio Candido de Mello e Souza, que além de crítico literário soma-se a atividade acadêmica como professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Aos 28 anos ele publicou um ensaio no Diário de São Paulo intitulado “O Portador”, este que foi um dos primeiros textos a apontar a necessidade de se recuperar o pensamento nietzschiano. Um detalhe oportuno de ser lembrado é que isso ocorreu em 1946, época em que a difamação de Nietzsche estava em seu apogeu. Este ensaio que teve como finalidade: a necessidade de “recuperarmos Nietzsche”; tentar afastar dele todo o estigma do conceito de guerra (que o coloca como percussor do nazismo); acrescentar que ele é um dos maiores inspiradores do mundo moderno; e afirma que suas obras servem de guia para muitos dos problemas do humanismo contemporâneo. Para justificar sua defesa, Antônio Cândido, dá ênfase a muitos trechos das obras de Nietzsche, partindo da afirmação determinante de que as mesmas nos promete sacudir, arrancar deste torpor, mostrando as maneiras pelas quais negamos cada vez mais a nossa humanidade, submetendo-nos em vez de nos afirmarmos. E em seguida, de forma estratégica ele começa a abordar sobre a importante contribuição de Nietzsche para história do pensamento: na sequência o autor expõe em seu texto que “Bem antes das modernas correntes da psicologia, ele [Nietzsche] analisou a força e importância dos impulsos de domínio e submissão, concluindo que há em nós um animal solto que também compõe a personalidade e influi na conduta” (com isso fica evidente a tentativa feliz de Antonio Cândido de ressaltar a contribuição de Nietzsche a psicologia); posteriormente, nosso autor fala da sua [de Nietzsche] influencia sobre a psicanálise argumentando que isso pode ser observado nas longas exposições da Vontade de Potência (e para evidenciar esse contexto o autor comenta sobre o super-homem – que aqui preferimos chamar: além-do-homem – e diz que essa figura usada por Nietzsche é um ente que consegue manifestar certas forças de vida, mutiladas em outros por causa da noção parcial que a psicologia e a moral convencionais oferecem a nós). É fato que o professor Antonio Candido não coloca em foco muitas outras contribuições de Nietzsche, mas podemos citar algumas que são muito próximas dos campos da nossa cultura: no que diz respeito à Literatura brasileira, vários autores - como Monteiro Lobato, Cecília Meireles e Clarice Lispector - se deixaram marcar pelo pensamento nietzschiano. Isso sem falar em Oswald e Mário de Andrade. Nas Artes Plásticas, a figura de eminência que foi influenciada por Nietzsche é Hélio Oiticica. No teatro, José Celso Martinez; na música popular, Jorge Mautner e Caetano Veloso. Isso sem falar na Sociologia. Florestan Fernandes, Sérgio Buarque e Otávio Velho.
Na leitura desse texto percebemos que o brio de Nietzsche e a reviravolta que provocou são reflexos da sua concentração na conduta humana, é exatamente por esse motivo que Nietzsche faz críticas à própria filosofia que por muitas vezes aparece, desde a Idade Média, mumificada através de conceitos. É como diz Candido, Nietzsche veio "romper uma série de hábitos tacitamente aceitos, e mostrar que a própria filosofia não dava mais conta das obrigações para com a Vida". Com isso Nietzsche apresentava uma atenção mordaz sobre o comportamento (basicamente irracional) do homem que mantinha-se aprisionado às convenções das
normas cristalizadas e consequentemente era incapaz de ver com objetividade qualquer coisa a seu redor ou em seu interior. De forma muito clara, Candido também aborda a figura do Peregrino (criada por Nietzsche) revelando que essa figura - cuja sombra se projeta pelos quatro cantos e nunca vende a alma ao estável, ao tranqüilo, porque deseja manter-se fiel ao desconhecido, enfrentando com a coragem da aventura. - deve servir de modelo para o pensador nietzschiano. Após essa explicação nos é colocado as conseqüências de ser um peregrino (... quando estiver cansado e encontrar fechadas as portas da cidade, que lhe deveria dar repouso. Pode ser, ainda mais, que o deserto chegue até a elas, como no Oriente, e as feras ululem, ora perto, ora longe, e um vento forte se eleve, e os salteadores lhe roubem os animais de carga. Desce então uma noite terrível, como um segundo deserto no deserto, e o Peregrino se sentirá exausto no coração. Quando o sol levantar, abrasando como a divindade da ira, abre-se a cidade, e nas faces dos habitantes ele verá talvez mais deserto, mais sujeira, mais embuste e mais insegurança do que fora de portas - e o dia será quase pior que a noite.) e em seguida a recompensa (mas depois virão, como recompensa, manhãs deleitosas, noutra paragem e noutro dia, onde, através do dilúculo, verá bandos de musas bailarem perto, na névoa das montanhas; onde, em seguida, quando passear à sombra das árvores, na serenidade da manhã, cair-lhe-ão, dentre os ramos e a folhagem, coisas boas e claras, dádivas dos espíritos livres, que se acomodam bem, como ele, nos montes, florestas e solidões, e são, como ele, de maneira ora alegre, ora pensativa, peregrinos e filósofos.) assim nos faz familiarizarmos com essa figura de espírito livre que anda em busca da Filosofia da Manhã e combate o comodismo dos costumes adquiridos
Em linhas gerais, Cândido diz que “Nietzsche é eminentemente um educador”, e justifica essa colocação ao dizer que Nietzsche propõe sem cessar uma série de técnicas libertadoras levando ao paradoxo de pensar. E em seguida diz que os livros de Nietzsche conduzem para o terreno da aventura espiritual, pois são livros de movimento, que têm um pacto misterioso com a dança, e isso é exatamente o elemento chave do seu pensamento. E o suntuoso disso tudo ele justifica com a seguinte afirmação: “É claro que os seus livros, que ensinam a dançar, não emanam de um filósofo profissional, mas de alguém bastante acima do que nos habituamos a conceber deste modo. Como poucos, em nosso tempo, é um portador de valores, graças ao qual o conhecimento se encarna e flui no gesto de vida.” É neste momento que entra em sena a figura do Portador, desta vez usada pelo nosso autor, que nessa abordagem apresenta de maneira muito generosa algumas características que nos faz compreender essa figura. Candido diz “que os portadores são seres, que podemos ou não encontrar, na existência cotidiana e nas leituras que subjugam o espírito e quando isto se dá, sentimos que eles iluminam bruscamente os cantos escuros do entendimento e, unificando os sentimentos desparelhados, revelam possibilidades de uma existência mais real. Os valores que trazem, eminentemente radioativos, nos trespassam, deixam translúcidos e não raro prontos para os raros heroísmos do ato e do pensamento. Geralmente, ficamos ofuscados um instante quando os vemos e, sem força para os receber, tergiversamos e nos desviamos deles. A opacidade se refaz, então, a mediania recobra o domínio e só resta a lembrança, de efeitos variáveis.” Com isso acreditamos que o indivíduo Portador, é aquele que conseguiu suportar as dores pelos músculos atrofiados, saiu da caverna e com muita honestidade de propósito buscou levar aos outros à luz que permite a contemplação de uma existência mais real.
Concluindo, Candido declara que Nietzsche é um dos maiores portadores do nosso tempo, e por essa razão avaliamos que mesmo ao rejeitarmos alguns conteúdos de suas (de NIETZSCHE) idéias, devemos reter e ponderar a sua técnica de pensamento, com objetivo de reter uma visão mais aguçada das coisas do nosso cotidiano, com isso consequentemente obtém-se uma superação das condições individuais e por fim, consegue-se sair da caverna. E o professor ANTONIO CÂNDIDO conclui as páginas deste ensaio de uma forma sensacional: “Recuperemos NIETZSCHE”. – um grifo que nos instiga a ultrapassar incessantemente o ser de conjuntura, que somos num dado momento, a fim de buscar estados mais completos de humanização.










Bibliografia:

• Cândido, Antonio. O portador. In:_. Obras Incompletas. Tradução e notas de Rubens R. Torres Filho. 3. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Coleção Os Pensadores).

• http://petroleo1961.spaces.live.com/Blog/cns!7C400FA4789CE339!942.entry

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